Se eu soubesse que a gente se extrapola quando cresce


Se eu soubesse que a gente se extrapola quando cresce, eu jogava mais bola, brincava de pique-cola e corrida com tampinha de garrafa pet. Se eu soubesse que isso afetaria minha insignificância, eu deixava de me aparecer quando criança, eu deixava de ser o astro da rua. Quase nua, minha verdade apareceu entre ranger de dentes, chineladas inconseqüentes e palmadas em pernas inocentes. Quando eu souber a perda que é pra um adulto, a infelicidade de servir de adubo para tantas fomes e carências no mundo, eu serei um herói perdido, falido, e ao mesmo tempo um mal feitor contra o oposicionismo, contra o abismo e contra todos aqueles que pensam em somente proliferar a dor. Quisera eu fazer malabarismo pra driblar as dificuldades da vida imposta por uma sociedade bosta de tantos “ismos” e esmos por cidra, bebida, saída, alcoolismo, mais um ismo que mistura cerveja, vinho, cachaça e linho. Lembro do Binho, garoto gordinho que ia pra lá e pra cá com sua camisa entreaberta, que ia pra lá e pra cá com suas pernas não só mais cheias do que o pneu do carro de seu pai. Ai… senti um pesar que percorreu até o meu braço esquerdo, se eu soubesse que lembrar do passado dava esse medo, eu iria ausentar minha consciência por mil décadas; de dedo em dedo, eu causo impacto por onde eu passo, com uma infância de meio maço que minha mãe fumava e soltava leite. Quente, ventre, sadio, correto, era eu o leite, o feto. Sabia perfeitamente que quando eu crescesse encontraria uma vaga aberta, pelos mais sórdidos desejos difíceis de se aprimorar e em alerta eu vivi na busca de amar, ingênuo, co-seno de um ângulo que pra muitos não é visível, respiração passível de uma falta de ar. Na verdade, tudo equivale à podridão de sensibilidade que Deus me deu em certa idade pra eu lavar a alma do outros e não a minha. Sempre me vinha a mente os corredores da ditadura, mesmo eu não tendo participado nem das mortes nem da cura, fazendo de mim um médium enfraquecido. Eu quero sair, quero me divertir, quero ler um livro. Quero ler Clarice, quero deixar de disse-me-disse e ter a sorte de fugir da burrice para que a incompetência não me acerte com o seu dardo, seu fardo, atingindo meu ânus pardo de uma limpeza intestinal impecável. Desculpe-me a falta do afável, é que eu quis ser maleável e acabei sendo indelicado. Talvez seja culpa do meu ser mal amado, pois se eu soubesse realmente que assim seria quando eu crescesse, pediria antes mesmo que morresse minha escassez de postura. Jura? Você não está se sentindo constrangido? Mesmo com todo esse contexto ambíguo que inerte permanece na loucura de meus ideais? Segue um aviso: pretendo somente parar por aqui, pois minha aventura está me chamando, ainda faltam tantos, mais tantos anos, que se eu partisse dessa pra melhor deixaria uma imensa monotonia mundial. Não é ego nem prepotência, não é uma forma de projetar minha ausência como algo que seria estrondoso e ruim. Só acredito que o tempo, meio que assim, faz jus ao nome de duração limitada, e mesmo que eu volte e me aprisione na infância saudosa, eu estaria de mão atada. Mas por outro lado, se eu me transformar em querubim e soltasse os cachinhos no mais belo jardim que imaginei ser esse o Éden. E como todo início tem seu fim, já que o princípio veio de mim, deixo a tu a sabedoria de terminar minhas idéias doravante. Para o alto e avante, para o centro da maior causa que nos leva a ter sentido, da sufocante capacidade que é ser assíduo até a hibernação em uma rede ao lado de uma árvore de frutas cítricas. Conseqüências místicas deves encontrar por um texto que não defende ninguém e acusa o que não me faz bem, comparando a razão que difere você do outro, depois eu de você. Muito prazer... como pude não perceber que no montante de falas sem sal, nós nem fomos apresentados, quem dirá mal, de vergonha ainda vou sofrer. Muito prazer… muito obrigado… a gente se fala… ou melhor… a gente se vê!

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