Não gosto quando dão rótulo de Amigo Urso a alguém, no sentido de que quando precisa dessa pessoa ela o crava as unhas nas costas e nos arranca a cabeça; ou aquele que simplesmente nos puxa o tapete ou nos põe em maus lençóis por pura burrice, ingenuidade, imprudência ou incapacidade de guardar um segredo. Porque dão tal rotulação a minha pessoa. Eu não sou nada disso. Pelo contrário, não sou nada inocente, sou assíduo e perspicaz nas horas certas.
Principalmente quando eu ouço a fábula de La Fontaine. Uma versão em prosa que traduzi para o português, e que segue logo abaixo:
A MORAL DA ESTÓRIA seria que nada é mais perigoso que um amigo imprudente; antes mil vezes um discreto inimigo. Poxa fala sério, eu levando a fama de mal sem ao menos poder me defender. Enfim, segue a fábula.
Um homem que no lidar da vida muito tinha que se queixar dos outros homens, reconhecendo os falsos, egoístas, mal agradecidos, tornou-se misantropo e, renunciando à sociedade, fora embrenhar-se em um ermo. Aí vivia solitário, tendo por companheiro um urso que domesticara. No urso, havia concentrado todas as suas afeições e cumpre confessar que lhe eram retribuídas. Quem os visse brincar juntos diria que era uma parelha de ursos. Um dia de verão, o solitário vencido pelo calor e pelo aborrecimento, adormeceu; o urso pôs-se a vigiar que nada viesse incomodar o seu amigo, que nada o acordasse. Uma mosca foi pousar nos beiços do homem, o urso procurou enxotá-la; como porém nada conseguisse por bons modos, pois a mosca ia-se e logo voltava, agarrou o bruto em uma pedra e atirou-lha quando estava pousada na cabeça do seu amigo. Matou-a, mas também o pobre misantropo foi-se desta para melhor, sem que lhe valesse o pranto do urso, arrependido da sua imprudência.
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