Démodé?


Em uma de minhas caminhadas pela extensa rua da Oliveira Belo, pude perceber duas jovens mulheres que conforme conversavam comiam açaí com cobertura de chocolate e flocos de arroz. Eu, por minha vez, fazia o mesmo, pois depois de andar os quatro quilômetros ininterruptamente, eu havia obtido uma fome tamanha, como em meu bolso só havia míseras moedas, resolvi comer algo que fosse bom, gostoso e barato.
Minhas passadas eram maiores e por isso em um dado momento estive perto dessas duas jovens. Estávamos indo para mesma direção quando ouvi sair da boca de uma um comentário que confesso, fiquei profundamente abismado. Aquele tipo de frase não era o que mais havia me assustado, pois nas longas conversas entre amigos com direito a uma cerveja estupidamente gelada, eu mesmo já o havia dito. O que me deixou surpreso era que aquele comentário surgira de uma mulher.
Ela disse:
“Amiga… não adianta! O homem que agrada muito a mulher não serve. A mulher não gosta desse tipo de homem, muito meloso… que faz tudo por ela.”
Quando a gente pensa que viu tudo, a gente não viu nada. Essa frase ficou na minha cabeça durante toda a volta pra casa, pensei em uma única pessoa, o que acabou trazendo-me uma angústia estranha de relatar. Foi como uma associação. E de repente me peguei vendo a pré-estréia de um filme, mas só eu na sala permanecia. Só eu sabia o final, mais ninguém. Uma idéia futura que me trazia medo. A gente tem receio de cometer erros e depois de um comentário daqueles tenho que ter mãos para não ser amoroso demais. É isso mesmo?
Ou seja, preciso me ausentar de todos esses sentimentos que me envolve e que me deixam a frente dos mais bobos e apaixonados, por pura e simplesmente má digestão das mulheres no que diz respeito à vontade de se doar por inteiro dos homens?
Resumindo: eu preciso ser bad e não good?
Romantismo está fora de moda e pra piorar temos que ter cautela se vamos ser melosos demais abrindo a porta do carro ou saindo com ele de nossas casas até um ponto distante somente para buscá-la em uma noite chuvosa. Temos que pensar antes de lavarmos a louça, pois isso pode parecer babaquice demais, nós que viemos de uma sociedade machista onde as mulheres se deixam levar pelas regras impostas contra elas mesmas. É o mesmo que atirar no próprio pé.
Não posso mandar flores.
Café da manhã na cama… nem pensar!
É… meus caros e assíduos leitores do meu blog, confesso que estou abismado. E após uma ducha quente, depois de um dia sem nada pra fazer, recebo um ligação da mulher que de meu coração está fazendo morada, causando em mim a mais sublime sensação de estar apaixonado, diferente de tempos atrás, quando em mim corroia a imensa nostalgia.
Atendi com uma voz engarrafada, aquilo que em algumas horas atrás feria meus ouvidos havia me deixado na defensiva. Do outro lado da linha ela me fazia um pedido.
“E aí… você pode vir me encontrar no shopping nesta quarta? É que eu já vou aí à casa de minha mãe amanhã, e… sem contar que eu estou tão cansadinha…
A forma como dizia, a voz que mais parecia a de um anjo, doce como a de uma criança, tudo isso pesava em minha decisão. Ela sabia pedir, a mulher sabe como e quando solicitar algo de um homem.
As duas jovens não saiam de meus pensamentos. Eu devia dizer sim? Eu devia ser legal o bastante para me tornar um cara cansativo até que ela veja que eu não sirvo mais?
Pois bem. Eu disse sim, porque não sei ser mal. Bem que eu queria. Mas sabe… esse não faz o meu tipo. Eu vou ser sempre o marido fiel, o bobo apaixonado, o pano em cima da poça para os pés não molhar, o que paga o jantar, o que puxa a cadeira para se sentar, o Romeu que a espera na sacada, aquele que acredita no amor…
Eu sempre achei que ser mal é ser aproveitado por um momento. Você tem a sensação de que cada mulher que passa em sua vida por algum instante, tu deixaste marca, como algo inesquecível. Ela te procura, te provoca. Você recebe vários telefonemas de várias mulheres diferentes e não consegue definir mais quem é quem. Você as atende, faz sua parte. Mas não as quer ver mais no dia seguinte. Você abusa de suas integridades e quando pensa em levar a sério, não é a mesma coisa. É sempre muito frio, porque em seu coração não há espaço para amar mais ninguém a não ser a você mesmo. Porque no fim, não é você o cara que vai lhe dar a felicidade que tanto necessita. Uma família, filhos, uma casa, um vida digna perante Deus. Não…! Somente o romântico, o que com poucas palavras e muitas vezes com o olhar consegue descrever inúmeras intenções e realizações que pretendes cumprir. É no dia-a-dia, no cavalheirismo, nas boas ações, no companheirismo… sim… nessa imensa palavra que quer dizer cuidar do outro, de ajudar e estar sempre com o outro independente de qualquer coisa.
Depois que desliguei o telefone, eu não queria saber se era verdade ou não, se ela havia chegado tarde ou não, se ela havia realmente saído com uma única amiga ou não, ou se ela estava me amando com a mesma intensidade que, de mim, se pode perceber. Não faz diferença. Eu sei que estou fazendo a minha parte, sem precisar se o cara mal da história.
Depois que desliguei o telefone, por um momento ainda permanecia aquela incógnita. Apesar de eu agir como alguém que crê na existência romanesca, de fato aquelas mulheres e seus açaís deixaram-me pasmo e com uma pergunta que não quer calar:

Até que ponto ser romântico não é ser chato, ou careta, ou démodé?

Será que alguém pode me responde?

2 comentários:

  1. Que tal uma resposta de Fernando Pessoa?
    "Para ser grande, sê inteiro
    Nada teu exagera ou exclui
    Sê todo em cada coisa
    Põe quanto és no mínimo que fazes
    Assim em cada lago a lua toda brilha,
    porque alta vive."
    Grande pessoa!!!!!!!
    Grande Léo!!!!!!!!!!
    Parabéns pelo blog!

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  2. Rapaz, existem milhares de pessoas e casos especificos.
    Essas meninas são apenas meninas, sem compreender nada de seus relacionamentos. Ja conheci muitas delas e nunca deu certo. Não é a busca por um relacionamento em si, mais por uma situação. Se uma namora, todas namoram, se uma termina, todas terminam. Que bom que você encontrou alguem que foge desta pobreza mental. Não culpo as meninas tambem, elas estão inseridas em um contexto diferente, se fosse me levar por esses pensamentos nunca namoraria ninguem, fugi desta vertente, mais muitos de meus conhecidos ainda veem isso como verdade absoluta.

    parabéns pelo Blog!

    Daniel MB

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