Meus ideais não me prendem ao acaso, mas o acaso me reduz a simples razão de eu existir porque não posso morrer. Se viver é uma dádiva, como poderia eu ter o prazer de sumir desta multidão de olhos. Confesso que famintos, sedentos, observantes por natureza e por qualquer coisa, inoperantes quando o assunto é o amor. Mas amor é um assunto para ser discutido em pauta, numa outra hora. Agora, somente o que me resta é negar qualquer tipo de afirmação que me revela em verdades. Não estou disposto a ser abduzido pelo meu outro eu, o avesso. Aquele que me destila e me mantém afastado das obrigações e dos deveres.
Há algo gritante em mim. Não é novo, na verdade nasceu comigo, cresceu comigo, mas permanece guardado, separado das prioridades talvez para não me causar enjoo ou demasiada aflição, para não entrar em ebulição nem sujar minhas idéias, que no fim, não me permite nem um nem outro. Por falta de opção eu escolhi ser aquilo que é bem visto, não o que é bem vasto a fim de satisfazer o meu ego.
Ah… quem me dera poder dizer que faço o que amo. Que amo o que faço. Seria o ápice da minha vida. Durante toda a vida. Seria o resto do meu conto de fadas escrito há alguns anos atrás, quando era ainda uma criancinha qualquer. Hoje sou um qualquer preso a uma criança gritando. Penso ser, todos os dias, gritaria, mas certa vez me pareceu ouvi-la cantando. Seria o canto das baleias? Ou seria eu me lamentando? A dor às vezes emite um som que acreditamos ser melodia. Uma nota só. O bastante para se ter como verdade que exista alguém gritando. Pode parecer loucura, pode parecer meu estômago. Mas esse só grita de fome, e no momento eu estou é com sede.
Então vamos brindar a minha imensa decepção comigo mesmo, deixe-me matar a sede, e o que mais… acho que faço 25 este ano. Não exijo parabéns, apenas um sorriso e basta. Sei que os olhos dizem muito mais que a boca, mas eu adoro sorrisos falsos. Eles me convencem que eu posso ser diferente em cada gesto não circulante, aquele passível à longo prazo, no qual a reação surge no exercício seguinte. Está aí a prova de que eu jamais serei livre. E à medida que eu vou me aprisionando mais e mais, as portas da esperança se fecham para mim. E o que sobra é uma questão de cálculo, uma em cada cem. Cem em cada mil. Porta que se abre e fecha em questão de segundos. Tempo necessário para se ver o que há do outro lado.
Descrição do que há do outro lado:
Uma criança.
Um lugar escuro.
Um livro e uma caneta sem tinta.
A criança chora. O livro está aberto. A caneta dança sobre o vazio.
O lugar cheira a livros e a criança fede a medo.
Fora isso, nada mais.
Um lugar que cheira a livros, um sonho impossível de acreditar. Uma escrivaninha, meus únicos pertences revelam que a riqueza que possuo, somente, são as idéias. Atrás de mim uma pilha de papéis com as últimas anotações em segredo. Lá fora, um sol intenso, o verde das folhas se mistura com a rosa das rosas e o balanço segue com seu barulho enferrujado, agüentando o peso de um “Meu pé de Laranja Lima” em sua 1º edição. Os livros ganham vida. E o que mais me chama a atenção é ”a menina que roubava livros”. Preocupante para minha literatura particular, que se resume em ser ou não ser.
A questão não vem a caso. O caso é essa difícil tarefa de viver para existir. Feliz eu seria se pudesse existir para viver, assim deixaria essa minha loucura obsessão pelos sonhos não realizados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário