O assunto é sério… A “Epidermólise Bolhosa” existe… O mundo vem passando por inúmeras transformações sociais, culturais, tecnológicas, comportamentais. Estuda-se, debate-se sobre a Ética, mas a realidade é bem diferente. Os portadores da doença e seus familiares deparam-se com tais estereótipos, incompatíveis com a batalha travada diariamente. A mídia, que invade o inconsciente coletivo sem pedir licença, contribui de forma ativa nas atitudes e pensamentos do homem. Os desenhos infantis atuais reforçam a beleza estética, a força física, o poder… O filme “A Bela e a Fera”, consegue retratar o contrário. O feio e o assustador, representado pela Fera, nos levam ao encontro do respeito e da dignidade. Distingue-se que nem tudo o que é belo está relacionado ao bem. Ao fazer uma analogia com essa história, os portadores de Epidermólise Bolhosa espelham-se na Fera. As feridas, cicatrizes e deformações espalhadas ao longo do corpo causam estranheza, repugnância, horror. No primeiro momento, a tendência é de fuga. As pessoas não gostam de ver o que é feio, nojento, pois no inconsciente equivalem ao ruim, contagioso, causa medo. Num segundo estágio, desenvolve-se o sentimento de dó e piedade – destruidor da auto-estima, além de lidar com a rejeição e vulnerabilidade social. (Pausa) O assunto é sério… A Epidermólise Bolhosa existe… Alguns de nós preferimos não enxergar. A ferida exposta ao mundo que se fecha nos dá a certeza da inversão de valores. Por isso hoje estamos aqui… Se o assunto é sério e os olhos se negam a ver… Estamos aqui… Seja pra mostrar a Fera escondida ou a bela adormecida… estamos aqui! O Teatro é a nossa ferramenta, o “Pensar” é a nossa busca. Esse é o nosso meio de comunicação… e não se trata de bolhas, feridas e cicatrizes, não se trata da distinção entre a doença e esse nosso mundo cheio de vida, trata-se de resgatar o que há de valor, nossos princípios, nossa moral… A filosofia do belo na arte vista com humor… Se o assunto é sério e os olhos se negam a ver, ocuparemos outros sentidos de forma a nunca desafiá-los, por isso eu os convido. Ouçam o que eu os digo, toquem no que é intocável, busquem nos riso dados, algo como a consciência. A própria nos revela que não só eles, mas todos nós estamos adoecendo… e por dentro! E como adoecer refere-se “à perda de” finalizo com a citação de Judith Viorst: (Pausa) “As perdas na vida são um tema universal. Não se referem apenas à morte das pessoas que amamos, a separações e às partidas, mas também à perda consciente ou inconsciente de sonhos românticos, expectativas impossíveis, ilusões de liberdade e poder. E ainda a perda de nosso próprio eu jovem, o eu que se julga imune para sempre às rugas, invulnerável e imortal”. O assunto é sério… A Epidermólise Bolhosa existe…
TEXTO USADO NA PEÇA "A VIDA NÃO CONTINUA" (ADAPTADO POR LEONARDO LIMA)
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