O Homem Só

O homem só, sofre por ausência. O homem só sofre, por ausência. Quando só está o homem, permanece vago. Quando só está o homem as idéias são completamente liberadas. O secreto deixa de ser secreto e tudo vem à tona. Se é possível esconder quando perto de uma multidão de olhos, é possível transpor os resultados mais inescrupulosos que existe na mente humana quando sozinho. Por exemplo: nesse momento estou em casa e duas coisas me incomodam profundamente. A primeira é esse cheiro que vem da cozinha. De azedo. De mijo. O que era para ser o odor de urina do banheiro se encontra fixado atrás da minha geladeira. O que me faz pensar que o frango não agüentou o frio e resolveu fazer xixi ali mesmo, escorrendo pelo tubo que leva a água descongelada até o compartimento secreto que a evapora em no máximo dois dias. Quando penso nisso, fico enjoado, o mesmo enjôo que sinto quando minha professora de Administração Contemporânea vem me explicar algo sobre um trabalho qualquer e chega tão perto que dá pra ver a baba branca que se forma entre os lábios e se fixa em todos os dentes da boca.

É quase deplorável meu estado ao me deparar com o segundo incomodo: estar só.
Sinto faltar um pedaço de mim, mas não sou um quebra-cabeça. Isso é razoável metáfora que nem chega perto da dor de ser o único entre quilômetros de distância. Não que eu seja o único, mas me sinto. A cada passo que dou dentro dessa casa que cheira a mijo, as horas passam e é apenas segunda-feira. Tenho o resto da semana inteira para sentir a minha própria urina (ou a do frango) na cozinha de alimentos que já passaram da validade. Eu não sei não, mas assim, se continuar nessa frágil solidão, a minha penúltima alternativa será esperar a morte comparecer em meu aposento para dar-me boas vindas, a última, é morrer.

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