Carta escrita a dois anos atrás, para a Cia., na qual, eu participava. Lembro de tudo como se fosso hoje...
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"Pra dizer a verdade, eu não consegui parar de pensar no que eu poderia dizer a cada um de vocês. Ou, quem sabe, a melhor forma possível de dizer. Resolvi então escrever. Resumir tudo o que estou sentindo, mesmo não estando em condições mínimas para relatar algo que se encontra desorientado e inquieto.
Ontem foi a gota d’água. Sinceramente, ontem foi o meu limite. Não sei por que as coisas tomaram essa imensa proporção, nem me lembro mais como começou, mas apenas sei que virou uma guerra incontrolável, atingindo a todos e tudo. Confesso que nunca fui um santo, admito que nessa guerra, ainda empoeirada, não existiu nem o bem nem o mal, visto apenas como agressores e agredidos. Se existe alguma relação amistosa e humanista, essa relação não está lá. Lá encontrei apenas relações de interesses e cobiças, à parte. Devo ressaltar que fiz grandes amigos, pouquíssimos até, mas o suficiente para me engrandecer. Não pretendo citar nomes, mas aqueles que são meus amigos, saberão.
Sou um rapaz de vinte e dois anos de idade que busca incansavelmente a melhor forma de agir com a vida e dentro dela, sem causar erros que possam abalar o meu futuro, por isso, se eu não quiser me tornar um velho infantil de cabelos brancos, que ora causa danos de um adolescente mimado, e ora desce o nível enganando os outros com seu falso coleguismo, então eu não posso mais me permitir as freqüentes idas a esse mundo, onde um quer devorar o outro.
Meus princípios e meus ensinamentos me levam a crer que eu não era obrigado a escutar terça parte do que foi dito ontem. E da forma como foi dito. O que sabemos sobre a vida? O quanto achamos que somos capazes de sufocar as pessoas com nossas palavras mal ditas, ou malditas, dizendo o que bem entender da maneira que bem entender? Como sabemos que o que estamos dizendo serve como meios de vida para os outros? É fato que somos culpados! Culpados por deixar isso acontecer. Somos culpados, segundo disseram. E nada ficou bem explicado, pois ninguém nos deu o direito de resposta. Todos acham que nós somos palhaços.
E por questão de honra, farei minha parte. Haverá os que me culparão, haverá também os que me apoiarão, – mesmo que isso seja quase impossível – mas estou decidido:
“Não farei a ALMA BOA DE SET-SUAN”.
Estou realmente decidido e nada me fará voltar atrás. Peço desculpas, mas já não possuía a vontade e agora, muito menos o desejo.
Nunca vi o curso como o último refúgio, nunca tive ao menos a pretensão em vestir alguma camisa que não fosse a meu favor ou a favor de meus amigos, e jamais cobicei nenhum tipo de integração ou posição. Não velo por uma oportunidade injusta, quero apenas mostrar o meu trabalho e o meu amor pelo teatro, não o teatro puritano que tanto vejo, desse eu estou fora, me refiro a outro prazer. O prazer de fazer as pessoas sorrirem, ou se emocionarem, assistindo “Shakespeare”, vendo “Romeu e Julieta”, se revoltando com Bretch. Pois é assim que eu me sinto, um ator revoltado por um teatro marginalizado, por um teatro comercializado, divulgado de forma errada. A grande diferença do que se vê externo e internamente me causa enjôo. Insatisfação. E acabo ficando do lado de poucos. E acabo me tornando algo indesejável. E acabo sendo o culpado.
Chega de tanta indiferença, chega de ouvir o que não me é necessário. Eu não preciso de ninguém para me reeducar. Minha mãe fez isso muito bem, apesar de minha relação com ela no momento não ser das melhores, pois está fazendo um ano que nós não nos falamos.
Já tive problemas demais e ainda estou tendo, sei muito bem o que é ter um problema. Sei da gravidade que é ter um. Por isso, não quero ser um problema na vida de ninguém, muito menos de pessoas que eu gosto ou que um dia gostaram de mim. O tempo pode nos avaliar melhor, nos mostrar realmente quem somos. Mas, enquanto isso, quero deixar de ser um dos causadores de toda essa confusão e desentendimento. Assim, procurarei ser mais maleável, mais dedicado ao meu trabalho, a minha família e ao grande amor da minha vida. Muitos já tentaram destruir o nosso amor e onde mais eu encontrei esse tipo de imperfeição, foi exatamente no teatro. Mas isso não vem ao caso. Preciso falar de nós, um grupo audacioso e dedicado e que jamais pode esquecer de onde veio, das suas origens e, do principal, da humildade.
Devo ressaltar, agradeço por tudo o que aprendi, e o que importa é o que eu me tornei. Não me arrependo de nada e levo como experiência todos esses meses em que passamos juntos,
Meus amigos.
Nem todo o final é feliz. Foi tempo em que eu assistia às novelas e vibrava por cada final, por cada último capítulo. Aquela cena agressiva de ontem deu início ao meu mais novo final, e aquela saída triunfal, meu último capítulo. Pena ter se tratado de novela mexicana, essa eu não acompanho! E aquela cena. Ah, aquela cena! Com direito a platéia interativa. As lágrimas do público, digo, verdadeiras obras primas de quem aprendeu direitinho o que é fazer teatro do modo mais falso possível, aquelas mereciam o Oscar.
Se o vento não levou, ou se o coletor de lixo não varreu e jogou em sua caçamba laranja, meus papéis ainda devem estar lá jogados. Não restou uma folha sequer. Set-Suan sumiu do mapa, pois os “Deuses” não foram com a minha cara. Equivocados são aqueles que pensarem que eu desisti. Como todo bom filme, haverá a parte dois. E eu retornarei das cinzas, assim como Fênix. Nem que eu atue para mim mesmo, dentro de casa, de frente para o espelho, pelo menos eu saberei que o que eu estou fazendo é teatro.
Como é difícil este mundo!
Obrigado por terem lido até o final. Vocês são muito importantes para minha existência. E acreditem… jamais esquecerei de vocês.
Atenciosamente,
"Pra dizer a verdade, eu não consegui parar de pensar no que eu poderia dizer a cada um de vocês. Ou, quem sabe, a melhor forma possível de dizer. Resolvi então escrever. Resumir tudo o que estou sentindo, mesmo não estando em condições mínimas para relatar algo que se encontra desorientado e inquieto.
Ontem foi a gota d’água. Sinceramente, ontem foi o meu limite. Não sei por que as coisas tomaram essa imensa proporção, nem me lembro mais como começou, mas apenas sei que virou uma guerra incontrolável, atingindo a todos e tudo. Confesso que nunca fui um santo, admito que nessa guerra, ainda empoeirada, não existiu nem o bem nem o mal, visto apenas como agressores e agredidos. Se existe alguma relação amistosa e humanista, essa relação não está lá. Lá encontrei apenas relações de interesses e cobiças, à parte. Devo ressaltar que fiz grandes amigos, pouquíssimos até, mas o suficiente para me engrandecer. Não pretendo citar nomes, mas aqueles que são meus amigos, saberão.
Sou um rapaz de vinte e dois anos de idade que busca incansavelmente a melhor forma de agir com a vida e dentro dela, sem causar erros que possam abalar o meu futuro, por isso, se eu não quiser me tornar um velho infantil de cabelos brancos, que ora causa danos de um adolescente mimado, e ora desce o nível enganando os outros com seu falso coleguismo, então eu não posso mais me permitir as freqüentes idas a esse mundo, onde um quer devorar o outro.
Meus princípios e meus ensinamentos me levam a crer que eu não era obrigado a escutar terça parte do que foi dito ontem. E da forma como foi dito. O que sabemos sobre a vida? O quanto achamos que somos capazes de sufocar as pessoas com nossas palavras mal ditas, ou malditas, dizendo o que bem entender da maneira que bem entender? Como sabemos que o que estamos dizendo serve como meios de vida para os outros? É fato que somos culpados! Culpados por deixar isso acontecer. Somos culpados, segundo disseram. E nada ficou bem explicado, pois ninguém nos deu o direito de resposta. Todos acham que nós somos palhaços.
E por questão de honra, farei minha parte. Haverá os que me culparão, haverá também os que me apoiarão, – mesmo que isso seja quase impossível – mas estou decidido:
“Não farei a ALMA BOA DE SET-SUAN”.
Estou realmente decidido e nada me fará voltar atrás. Peço desculpas, mas já não possuía a vontade e agora, muito menos o desejo.
Nunca vi o curso como o último refúgio, nunca tive ao menos a pretensão em vestir alguma camisa que não fosse a meu favor ou a favor de meus amigos, e jamais cobicei nenhum tipo de integração ou posição. Não velo por uma oportunidade injusta, quero apenas mostrar o meu trabalho e o meu amor pelo teatro, não o teatro puritano que tanto vejo, desse eu estou fora, me refiro a outro prazer. O prazer de fazer as pessoas sorrirem, ou se emocionarem, assistindo “Shakespeare”, vendo “Romeu e Julieta”, se revoltando com Bretch. Pois é assim que eu me sinto, um ator revoltado por um teatro marginalizado, por um teatro comercializado, divulgado de forma errada. A grande diferença do que se vê externo e internamente me causa enjôo. Insatisfação. E acabo ficando do lado de poucos. E acabo me tornando algo indesejável. E acabo sendo o culpado.
Chega de tanta indiferença, chega de ouvir o que não me é necessário. Eu não preciso de ninguém para me reeducar. Minha mãe fez isso muito bem, apesar de minha relação com ela no momento não ser das melhores, pois está fazendo um ano que nós não nos falamos.
Já tive problemas demais e ainda estou tendo, sei muito bem o que é ter um problema. Sei da gravidade que é ter um. Por isso, não quero ser um problema na vida de ninguém, muito menos de pessoas que eu gosto ou que um dia gostaram de mim. O tempo pode nos avaliar melhor, nos mostrar realmente quem somos. Mas, enquanto isso, quero deixar de ser um dos causadores de toda essa confusão e desentendimento. Assim, procurarei ser mais maleável, mais dedicado ao meu trabalho, a minha família e ao grande amor da minha vida. Muitos já tentaram destruir o nosso amor e onde mais eu encontrei esse tipo de imperfeição, foi exatamente no teatro. Mas isso não vem ao caso. Preciso falar de nós, um grupo audacioso e dedicado e que jamais pode esquecer de onde veio, das suas origens e, do principal, da humildade.
Devo ressaltar, agradeço por tudo o que aprendi, e o que importa é o que eu me tornei. Não me arrependo de nada e levo como experiência todos esses meses em que passamos juntos,
Meus amigos.
Nem todo o final é feliz. Foi tempo em que eu assistia às novelas e vibrava por cada final, por cada último capítulo. Aquela cena agressiva de ontem deu início ao meu mais novo final, e aquela saída triunfal, meu último capítulo. Pena ter se tratado de novela mexicana, essa eu não acompanho! E aquela cena. Ah, aquela cena! Com direito a platéia interativa. As lágrimas do público, digo, verdadeiras obras primas de quem aprendeu direitinho o que é fazer teatro do modo mais falso possível, aquelas mereciam o Oscar.
Se o vento não levou, ou se o coletor de lixo não varreu e jogou em sua caçamba laranja, meus papéis ainda devem estar lá jogados. Não restou uma folha sequer. Set-Suan sumiu do mapa, pois os “Deuses” não foram com a minha cara. Equivocados são aqueles que pensarem que eu desisti. Como todo bom filme, haverá a parte dois. E eu retornarei das cinzas, assim como Fênix. Nem que eu atue para mim mesmo, dentro de casa, de frente para o espelho, pelo menos eu saberei que o que eu estou fazendo é teatro.
Como é difícil este mundo!
Obrigado por terem lido até o final. Vocês são muito importantes para minha existência. E acreditem… jamais esquecerei de vocês.
Atenciosamente,
Leonardo Lima."
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