A garota caminhava com seu cão, que o rotulo de “Elvis” por ao longe perceber um singelo topete a começar bem acima dos olhos caídos, por um desses verdes campos perto da praia do Flamengo. Lugar esse salubre, visitado por jovens e esportistas moradores do bairro.
Aquela menina me chamou a atenção. Seu andar era sustentado pelas pontas dos pés o que me fez pensar que era ou um dia foi bailarina. Ela flutuava conforme Elvis metia o focinho em cada canto do gramado. Parecia querer encontrar alguma coisa, o que não era verdade, pois apenas sentia o cheiro da urina de outros cães. Fazia o mesmo. Urinava em cada canto a fim de deixar também sua marca.
No mundo dos bichos, isso é importante.
E a marca da garota era flutuar.
Tudo aconteceu muito rápido. Em vinte segundos tudo pode mudar. Tinha certeza de duas coisas, uma era que a garota morava no flamengo, a outra era que tinha um cachorro de topete estranho. Mas o motivo de minha escrita viria depois. Como se já não bastasse ter aquela cena em minha memória, por algum motivo Deus achou que me faltava risos naquele começo de noite. Ao passar por um pequeno campo de futebol, mais a frente, onde lá se bate o escanteio, havia um vão separando chão e gramado. Por algum motivo óbvio a garota do Flamengo não viu esse vão, pisou em falso e caiu. A cena veio a repetir-se na minha cabeça outras vezes, mas o fato é que não pude conter o riso ao ver a queda. Não pensem que sou perverso… não! Caso fosse um fim glorioso, daqueles dignos de Oscar, era certo que eu iria aplaudi-la de pé, porque de pé já estava. Mas não foi o que vi, nem o que se sucedeu. Durante o processo de queda era careta no ar, joelho no peito, braço para um lado, cabelo pro outro e a sensação de que a qualquer momento iria bater asas…
Confesso que senti estranheza ao ver a linda garota do Flamengo cair daquela maneira e perceber que Elvis nada fez para trazê-la de volta.
Ele parecia rir junto comigo.
Ela parecia sem graça.
Mas como de supetão ao mesmo tempo em que caia, indo contra as leis da gravidade, fez um enorme esforço para se controlar. Talvez esse seja o motivo do desengonçar. Apesar da demora em escrever sobre os detalhes a que me refiro, tudo aconteceu rápido demais. Ela voltou a caminhar e a passar a mãos nos lisos fios de cabelo, como se nada tivesse ocorrido.
Nada…
Mas eu vi.
Vi sua ascensão.
Vi sua queda.
Eu e o cão. Mais ninguém.
Em conseqüência desses pensamentos que me tomam por inteiro, notei em como somos observados quase todo o tempo, mas não vemos ou não sentimos. Como somos cercados de olhos às vezes famintos, às vezes curiosos.
Ela não sabe que eu a vi ali sofrendo o resultado natural de um passo em falso. Só eu. O ônibus partiu com uma marcha mal passada e enquanto eu me afastava da garota do Flamengo e de seu imprestável cão Elvis, senti uma enorme vontade de compartilhar com alguém.
Pronto.
Não lhe devo mais nada por hoje.
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